terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Garçom, aqui nessa mesa de bar..."

Sexta-feira de calor, depois de um dia estressante de trabalho, que custou em terminar, me vi sentada, sozinha, na mesa de um barzinho. Falei com meu irmão para ver se poderia me encontrar, mas ele tinha planos melhores, liguei para uma amiga casada que preferiu ficar em casa com o marido. Sinceramente, eu também preferiria. Isso, claro, se eu fosse casada ou tivesse um namorado, ou até mesmo um “P.A.”, como as meninas chamam hoje o que nossas avós diziam ser os “amigos coloridos”. Foi quando eu estava segurando a minha quarta caipivodka de abacaxi sem açúcar e conversando – resmungando e/ou chorando lágrimas de uma bolsa Prada de couro de crocodilo – com o Ilde, meu garçom, que entendi a veracidade daquela tão famosa música de Reginaldo Rossi.
Senti-me o próprio, já que estava sentada numa mesa de bar, contando casos de amor para o meu querido Ilde, ou apenas Wildebrando, somente para aqueles que ele (coitado!) não teve que aturar por sete caipivodkas seguidas. Claro que Ilde teve um breve momento de descanso ao atender outras mesas, repletas de casais ou de mulheres sozinhas como eu. Corrigindo: como eu ninguém estava, já que me encontrava na companhia onipresente de Deus e mais três cadeiras vazias. Ao contrário de mim, minhas “parceiras” riam uma das outras enquanto comiam um crepe e tomavam refrigerante.
Bem ao contrário de mim, isso porque o que me interessava era a tal da vodka.
Ilde também lucrou com outro certo descanso quando, ouvindo as minhas preces, uma força mais que Divina enviou para mim uma amiga que há muito não via. Ela, claro, estava acompanhada pelo namorado, um “acessório” moderno indispensável e muito difícil de ser encontrado no momento, quase tão raro quanto os ursos Panda. Fiquei com pena do rapaz quando o vi assustado, depois que eu gritei lá de dentro: “Amiga, senta aqui!!! Ilde eu não estou mais sozinha!!!”. Ela, como não tinha outra escolha aparente, sentou. Coitada... o Ilde tentava se comunicar com ela através de olhares, acenos e sinais de fumaça para que a pobre não sentasse para ouvir uma bêbada falando de um cara que nem se lembra mais do seu nome.
Pobre amiga... ela conseguiu me ouvir durante uma hora... ela e o namorado, que já havia se tornado meu amigo de infância. Entre risos e choros, acho que matamos a saudade de tal forma que ela não mais irá me ligar, quanto menos me perguntar como estou. Mas minha noite de sexta-feira de calor não terminou assim... com a saída da minha amiga e de seu acessório a tira colo, continuei minhas lamúrias no ombro de Ilde. Continuei a observar quem passava na rua, a ver os casais se beijando, rindo e conversando... foi quando mais uma vez senti a solidão entre aquelas cadeiras vazias.
Chamei Ilde e pedi: "A saideira e a conta!". Acho que cheguei a ouvir um suspiro de alívio por parte dele. Enfim... e veio a sétima caipivodka de abacaxi sem açúcar. Mas a verdade é que eu permanecia esperando. Quem sabe um cara, não a minha pessoa especial, que eu não quero ver tão cedo ou nunca mais, mas um outro. De repente que esteja se sentindo tão só quanto eu, e aberto a conhecer pessoas interessantes e desprendidas de preconceitos ou prejulgamentos. Alguém que considere corajosa a atitude de uma mulher de 30 anos que liga o f...... e vai se sentar sozinha numa mesa de bar para encher a cara e elucidar sobre seus problemas financeiros e amorosos. Quem sabe um dia ele não chega e pede para sentar numa das três cadeiras vazias, ao mesmo tempo em que me oferece uma vodka gelada e uma conversa inteligente? É... passados três dias, acho que ainda estou sob o efeito do abacaxi.