domingo, 28 de junho de 2009

Mudança... de comportamento

Solidão: estado interno. “Um sentimento de que algo ou alguém está faltando. Uma sensação de separatividade e desconexão com algo ainda inconsciente, sendo que numa visão espiritualista é a separação de Deus, do Eu Superior, da vida ou do todo”. Não poderia haver definição melhor para o meu atual estado de espírito. Sem família, sem namorado, distante dos amigos e desinteressada pelo trabalho. Estou aqui parada olhando para o computador tentando não surtar. Buscando ter uma reação diferente da que eu geralmente tenho (tinha!) quando me sinto sozinha e carente.

Numa época não tão distante, eu tinha o hábito de colocar para fora a minha frustração gritando, agredindo, me descontrolando. Em seguida fechava meu ciclo dos horrores fazendo uma boa noitada, dançando, rindo, enchendo a cara de vodka e beijando o primeiro que pronunciasse meu nome corretamente. Pelo menos, nesse ínfimo instante conseguia não pensar em quanto a minha vida precisava de mim. E eu dela. Nessa minha “Matrix” sou amoral, ilimitada e todas as minhas ações vem desacompanhadas de conseqüências. Claro que isso perdura somente até o dia seguinte.

No “day after”, geralmente, levantava da cama e subitamente elevava as mãos à cabeça lembrando do que eu havia feito na noite anterior. Novamente, havia me exposto. Acabava por chorar igual a uma criança, porque percebia que continuava sem família, sem namorado, distante dos amigos e desinteressada pelo trabalho. Trancada no meu mundo, que se limita ao meu quarto, absorvia tudo o que a televisão tinha para me transmitir. Não questionava, não esboçava qualquer reação... Sempre à espera de algum telefonema que pudesse ter o poder de me tirar daquela solidão sem proporção mensurável. Às vezes o telefonema vinha e eu voltava ao meu ciclo dos horrores, repleto de derrotas, conflitos e copos descartáveis. Se é que vocês podem entender esta metáfora, em específico.

Hoje não. Há semanas percebi que eu sou duas mulheres em um único corpo. Quando estou me sentindo plena, feliz e motivada, sou eu mesma: simpática, animada, centrada, responsável, leal, fiel e altruísta. Mas quando me vejo na situação atual, na qual impera a solidão, a carência e para completar me sinto um burro de carga ao levar no lombo a culpa do mundo, me transformo nessa pessoa que descrevi acima: totalmente amoral, inconseqüente, insegura, agressiva, lasciva e ilimitada.

O mais irônico é que a pessoa que me ajudou a perceber isso tudo é a mesma que está me deixando desestabilizada e sem norte, isso porque ele foi o primeiro para o qual expus esse meu lado negro e que me viu do avesso por diversas vezes. Foi a mesma pessoa que me ouviu enquanto eu gritava em silêncio e que me estendeu a mão e ofereceu ajuda. Ajuda esta que eu, primeiramente, desdenhei, mas que logo em seguida, agarrei-a a ponto de não querer soltar nunca mais. Claro que não o culpo por nada disso. Tenho certeza de que tudo que está acontecendo na minha mente está diretamente relacionado aos meus transtornos.

Mas segundo minha pessoa especial, eu preciso transpor esse ciclo sozinha e enfrentar meus fantasmas sozinha. Sei que ele está certo, inclusive sei que é isso mesmo que eu tenho que sentir na pele para fortalecer o meu superego e para não voltar a me autodestruir. Ainda assim acho que poderia haver algum tipo de morfina psicológica que amenizasse essa angústia que vem da carência, da solidão e da insegurança. Ou então que eu não precisasse, efetivamente, passar por isso sozinha. Sei que de hoje em diante não vou mais me descontrolar, gritar, agredir e, muito menos, sair para a noitada. Vou me trancar no quarto e me limitar a chorar quietinha, enquanto suporto minha extrema mudança de comportamento.

Relacionamento(s)...

Busca contínua, defesa, reservas, medo, intolerância... Por que estas são algumas das características que regem o início de um relacionamento, hoje em dia? O que complicou tudo o que, supostamente, deveria ser tão fácil e tão bem aproveitado pelas duas partes que estão começando a se envolver? Conquista, carinho, entrega, sinceridade, lealdade, entre outros conceitos tão fortes quanto, deveriam ser os mais empregados por casais pós-modernos. Mas, ao contrário disso, a maioria usa e abusa de avatares, para que o outro só enxergue aquilo que ele permita que veja, não se deixando levar por um sentimento que não deveria ser controlado, limitado ou tolhido.

É muito triste quando se analisa profundamente essa sociedade hipócrita e demagoga, na qual as pessoas esqueceram de respeitar as outras, onde é preferível “ficar” sem compromisso, a mergulhar de cabeça e apostar num relacionamento que pode sim dar certo. O problema, acordado por muitos, está na bagagem que cada um leva, inconsciente ou conscientemente, de uma relação para a outra seguinte. O que serviria para somar e nortear – já que com a vivência ponderamos melhor o que queremos e o que não toleramos mais como característica para aquela pessoa que desejamos ter como parceira –, traz consigo ainda traumas rançosos.
Isso só contribui para um endurecimento do outro, o que vem a deixá-lo cada vez mais intolerante, adjetivo que permite com que seja construída uma barreira imaginária, que impede o envolvimento entre duas pessoas. Isso porque o receio de se magoar, tanto ou mais do que na última experiência, é muito maior que a vontade de seguir à diante, de conhecer um novo alguém. Já falei sobre isso antes e ouso “gritar” dessa vez: sou romântica, me entrego sim e acredito nas pessoas. Prefiro cair de cabeça e me machucar a entrar num relacionamento cheia de reservas, estas que não acho nem um pouco justas para ambos.
Sinto-me viva quando conheço alguém que de cara me faz rir de nervoso e sentir aquele cala frio na espinha. Há quem diga que me exponho demais, o que pode até ser verdade, mas uma relação a dois não é isso? Exposição total da alma e do corpo? Se não é hoje em dia, deveria continuar sendo. O problema é ainda maior quando pensamos fazer o que ordena essa teoria perfeita, mas um belo dia nos damos conta que possuímos também um avatar. Até eu, no auge do meu romantismo meio anos 60, descobri que cultivo um com afinco.

Aquela pessoa especial me fez enxergar isso nesse final de semana. Percebi que o medo de uma possível reprovação por parte do outro, devido à minha personalidade antagônica (tão mal compreendida por mim) somada a alguns defeitinhos, que de “inhos” não tem nada, me fizeram criar uma máscara inconsciente. Essa mesma, tão criticada por mim. É duro pensar estar entregue e totalmente exposta e de repente perceber que não só se esconde, mas que também se tolhe ao se mostrar para o outro. Reservas e mais reservas. As inconscientes são tão traiçoeiras quanto as intencionais. Confesso que nesse final de semana, além de me encarar do avesso, também tive a oportunidade de conhecer e (me perdoem!) analisar outros casais.

Um deles pra lá de destrutivo e o outro desleal. Tal percepção me fez parar pra pensar no por quê disso tudo. A conclusão pode ser avaliada a partir das características descritas no início deste texto reflexivo: busca contínua, defesa, reservas, medo e intolerância. As pessoas se preocupam demais em não estarem sós, se contentando com pouco, quando deveriam exigir o “tudo”. Muitas das vezes tem a ver com imaturidade ou com uma auto-estima praticamente nula, o que faz com que seja projetado no outro a razão de sua felicidade. É certo de que ainda pode vir à tona aquele velho pensamento infanto-juvenil conhecido e evocado por alguns pessimistas: “nunca encontrarei outra pessoa”. Insistência não deve ser confundida, em nenhum momento, com tolerância, uma das características que considero essencial a um relacionamento.

Faz-se válido tentar, desde que seu bem-estar não esteja em jeopardy. Acredito que haja um meio termo entre a reserva/ defesa e a exposição total/ entrega, só assim, quem sabe, alguns poderiam deixar o “deveria” de lado para se concentrar no que realmente importa: o que está por vir, o futuro e, principalmente, se permitir a retomar a fé no outro. Daqui pra frente, pretendo praticar a confiança em mim mesma, assim como oferecer uma oportunidade para que o outro me veja inteira, única, sem meu avatar e ainda sem qualquer resquício de defesa, reservas, medo ou intolerância, para que minha busca contínua algum dia possa se encerrar num encontro honesto e perene.

Na roda com os meninos

Um jornalista uma vez me disse que a pesquisa de campo é um dos bens mais preciosos do bom profissional. Como, na época, era uma foca (para os normais, a tradução: quer dizer estagiária na linguagem jornalística) não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso. Para mim, era ir para rua, apurar a matéria com os personagens já pré-determinados e voltar para a redação com o sentimento de dever cumprido. Alguns anos depois, principalmente fazendo parte da editoria de cultura quase que minha vida inteira como repórter, entendi perfeitamente o que disse o coleguinha. Na rua, vendo ou participando de determinadas situações, conseguia perceber o momento e criar sugestões de pauta, assim como compreender algumas nuances do comportamento humano e aprender com elas.

Digo isso, mais especificamente, porque tive a oportunidade de sentar à mesa com três homens inteligentes um dia desses. No começo, dois deles estavam cheios de dedos com a minha presença, porque eu representava ali “a mulher”. Vocês sabem... é aquela velha história: homens de família aprendem quando pequenos a não falar palavrão na frente das meninas, a se comportarem como verdadeiros gentlemans, etc, etc. Mas num súbito fervor de raiva, incitado por uma briga entre namorados, um deles soltou o verbo, para a minha surpresa. Eu adorei, porque ali me vi como um dos meninos. Aliás, adoro conversar quando eles conseguem se libertar das rédeas da sociedade ao ver uma mulher como um dos brothers, ou algo do tipo.

Dependendo dos homens, eles se tornam ainda mais interessantes, mostrando inteligência e uma criatividade ímpar, principalmente, quando o assunto é relacionamento. Voltando ao estopim que culminou numa noite engraçadíssima e elucidativa, esse amigo brigou com a namorada porque ela estava de TPM. Na verdade, ela brigou com ele, porque estava na TPM. Considerada por nós, mulheres que tem essa doença de fato, um dos maiores terrores das últimas centenas de anos, a Tensão Pré-menstrual nos trás, mensalmente, irritação, tristeza sem razão aparente, raiva, ódio iminente, um humor bipolar e uma tendência a sermos grossas e estúpidas com nossos namorados. Homens de plantão, saibam que não fazemos por mal. Simplesmente nos vem à cabeça uma insegurança monstra, que nos faz duvidar de tudo o que vocês dizem, que nos faz achar que vocês não ligam mais para nós e, como a intimidade permite o imensurável (de vez em quando!), descontamos nossas frustrações em vocês.

Certo? Claro que não é. Nossa insensibilidade momentânea faz com que não percebamos o quanto somos pentelhas, egocêntricas e maniqueístas nesta triste fase do mês. E esse amigo, naquela noite em específico, me fez perceber isso. Fiquei sentindo uma culpa enorme, porque sei o quanto somos cruéis de TPM. Segundo ele, sua namorada estava arrumando pretextos para brigar, fez cara emburrada na fila do cinema, não queria jantar conosco, sem falar que, com certeza, ficaria chateada se ele ficasse com a gente naquele restaurante. Fato este que se confirmou mais tarde, num outro dia.

Enquanto ele falava a respeito, pensava que quando nossos namorados estão com problemas (muito menos sazonais que a nossa TPM) e descontam na gente, falamos que são estúpidos e grosseiros e quando não satisfazem um desejo nosso, os chamamos de egoístas. Acho melhor pararmos para perceber quem magoa quem nessa história toda. Desde que começou a guerra dos sexos, reclamamos deles por não entenderem nosso comportamento durante a TPM e por não se comoverem com nossas crises existenciais ridículas e de validade com vencimento pré-estabelecido.

É bem verdade que nós somos o nosso próprio mal e o que os respectivos namorados querem é que sejamos as mesmas o mês inteiro. Eles desejam o que nós dissemos buscar sempre numa relação, isso claro, quando não estamos cegas pelos sintomas da TPM: um namoro linear, saudável. Só isso. Não enxergamos ou o permitimos, porque estamos ocupadas demais sofrendo por algo sem causa definida. Meninas, a TPM hoje tem cura, a culpa e o arrependimento ainda não.

O conceito contemporâneo de família

É muito triste ler nos jornais e saber por amigos que existem famílias coniventes com uma mãe que deixa de falar com a filha por recalque ou porque desistiu de tentar uma aproximação; um pai que pune seu filho de 12 anos com uma forte agressão física e verbal, só porque a criança o contrariou; famílias que permitem que uma filha sofra abuso sexual; ou ainda saber que um pai chama de "favorzinho" a preocupação e a entrega de um filho que largou tudo para vê-lo, enquanto este se consumia por um AVC em outra cidade, na noite de Ano Novo.
A família de hoje não é mais a mesma cantada por Arnaldo Antunes em 1986. Isso porque além de não almoçar junta todo dia, não se tolera mais, não atravessa um problema de mãos dadas, nem transmite palavras de incentivo e apoio quando um de seus membros desesperadamente precisa. Parece que "individualismo" e "egoismo" são sinônimos contemporâneos encontrados para a tradicional palavra "família". Pode-se dizer que o ápice da comprovação dessa minha teoria foi ouvir um filho expressar a vontade de mudar seu sobrenome com o intuito de se dissociar, definitivamente, da família.
É inacreditável como muitos ainda desprezam a importância de fortalecer esses laços permanentes, isso porque, segundo especialistas o distanciamento familiar é tão grave que acaba por gerar consequências desastrosas na formação do indivíduo como um todo. Foi comprovado que muitos adultos se tornam mimados, psicóticos, alienados e/ou frustrados por serem criados em ambientes nocivos, não somente por terem herdado gens pouco confiáveis. Deixando de lado a questão negativa da coisa, um fato é certo: nesse caso, a exceção deve ser aplaudida de pé e reconhecida, mesmo que não seja pela família, que seja por amigos, namorados e desconhecidos.
Afirmo com propriedade quando digo que vale a pena conhecer uma pessoa assim... que mesmo diante de uma provável conspiração do universo contra sua formação psicológica saudável, descarta a possibilidade de auto-piedade e opta por reagir, dando a volta por cima e lutando contra um fim óbvio demais. A meu ver, essas pessoas são muito mais especiais do que aquelas cuja família pode contar. Você que é ou conhece alguém assim, sabe que chega a ser assustador olhar nos olhos dessa pessoa e ver, nitidamente, a força (não só de vontade!) que há dentro dela.
Saber que mesmo com tudo tramado contra sua identidade moral, ela contorna os problemas, ignora os comentários infundados e críticas maldosas e consegue crescer forte, independente, com valores irretocáveis e com metas firmamente traçadas. Cheguei a conclusão que evoluir é uma escolha e que muitas vezes vai te obrigar a ouvir calado qualquer comentário que magoe ou até mesmo explodir numa forma de aliviar a sobrecarga de inverdades proferidas contra você, fazendo com que sua voz se torne irreconhecível ao ficar trêmula de raiva.
A partir do momento em que se opta por seguir o caminho certo, acredito que é possível sim um homem ser fiel, mesmo que exemplos paternos mostrem uma tendência contrária; ser honesto e íntegro, mesmo que o irmão seja um bandido; ter sucesso profissional mesmo que sua mãe te rotule como fracassada; manter seus valores intactos mesmo que a maioria a sua volta tente seduzi-lo e levá-lo para o caminho errado.
A vida é feita de escolhas e quando se percebe que algo está errado, independente dos fatores externos, há como mudá-lo: é só respirar fundo e proteger sua identidade de qualquer julgamento. Escolha viver bem, ignorar o que instintivamente ache que deva ser ignorado e lute, mas lute muito. Não para provar a sua família que ela está errada, mas para ratificar seu poder de escolha e determinação, contrariando todas as expectativas ordinárias. Suas ações podem determinar quem você é na essência a partir desse momento.

Confissões de uma mulher de 30

Durante uma conversa espontânea com uma pessoa muito especial, ontem – prefiro acreditar que essa espontaneidade nada tenha a ver com a garrafa de cabernet sauvignon que decorava nossa mesa (!) –, comecei a prestar atenção na música ambiente do restaurante, “personificada” nos clipes que passavam nas televisões de LCD do local. Ouvi de tudo: Corona com seu “This is the rhythm of the night”; Ace of Base interpretando a deliciosa “The Sign”; Culture Beat com “Mr. Vain”, entre outras pérolas. Percebi que esse repertório, totalmente insignificante para menores de 25 anos, refletia o set do DJ que tocava num aniversário realizado no primeiro andar. Resolvi perguntar ao garçom quantos anos fazia o tal aniversariante e mesmo sob forte negativa da pessoa que estava a meu lado, acertei em cheio: 30 anos.

Recentemente, percebi que tenho o “dom” de identificar uma determinada fase da vida a partir das canções e da moda que me marcaram naquela época. Sabia, exatamente, o que me lembrava essas músicas e qual o ano de cada uma delas, justamente por compartilhar com o aniversariante a mesma idade e, claro, a mesma época a qual me refiro. Nesse restaurante vivi situações nostálgicas, engraçadas e de muita reflexão e sintonia com a pessoa que estava comigo, que vai “comemorar” seus 30 ainda este ano. Percebemos que estamos passando pela mesma fase, mas de maneiras diferentes.

Ele, ao contrário de mim, está caminhando ainda pela estrada da negação. Eu, por outro lado, já me conformei. Confesso que estou até gostando de ser balzaquiana e me sinto exatamente como um dia bem descreveu o escritor: “a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser pudica e até embelezar-se com a desgraça”, além de se libertar de toda a culpa que um dia carregou. Hoje, como deduzi ontem, consigo dizer ‘não’; corro atrás de qualquer coisa quando quero; e consigo ignorar a opinião de alguns quando não gostam das minhas atitudes.

É engraçado (apesar da palavra “trágico” de ter me ocorrido agora) fazer 30 anos. Parece que estamos perdendo tempo o tempo todo e de vez em quando nos pegamos a analisar a vida e não paramos de nos questionar: “o que fizemos até agora? Nossa! Ainda moro com meus pais! Preciso ganhar dinheiro!”, etc. Pior é quando todas as suas amigas, da mesma faixa etária claro, já casaram ou estão grávidas. Resultado: esse quadro pra lá de crítico faz com que todos da sua casa se voltem contra você, te obrigando a travar uma batalha sobre-humana consigo mesma e, claro, com a família inteira.

Conceitos, critérios, medos e frustrações vem à tona, fazendo com que seu inconsciente se revolte e transmita a mensagem de que você é sim uma adolescente; que você quer sair com pessoas mais novas; aprender novas gírias; e ser suscetível aos modismos recentes. Além de voltar a fumar aquele “gudanzinho” na noitada, fazer aquela figuração na porta da boate mais frenética do momento e gastar rios de dinheiro com vodka e energético, isso porque um belo dia você descobriu que o Hi-Fi já saiu de moda (e da maioria dos cardápios) há mais de 15 anos.

De acordo com a psicologia isso se chama “Síndrome de Peter Pan”, nome dado ao estágio inconsciente no qual você se encontra presa, intensa e profundamente, na utópica Terra do Nunca, paraíso para aqueles que não querem crescer segundo o clássico imortalizado pela Disney. Essa mesma fase de resgate me aconteceu aos 24, quando estava prestes a me formar na faculdade, já tardiamente. Não queria ser profissional de jeito nenhum e o fato de assumir ainda mais responsabilidades na minha profissão me fazia pirar. Superei.

Na conversa de ontem percebi que eu tenho o poder de dar um “basta” em tudo que me incomoda. Foi assim com alguns relacionamentos passados, com o cigarro, com minha primeira crise de identidade e por que não o fazer de novo? Sei que isso está prestes a acontecer. Fato. A única coisa que eu não sei é se estou preparada para comprar agora uma passagem de volta da Terra do Nunca, Shangrilá, Pasárgada, que seja. Pode ser que sim... quem sabe em suaves prestações?