Solidão: estado interno. “Um sentimento de que algo ou alguém está faltando. Uma sensação de separatividade e desconexão com algo ainda inconsciente, sendo que numa visão espiritualista é a separação de Deus, do Eu Superior, da vida ou do todo”. Não poderia haver definição melhor para o meu atual estado de espírito. Sem família, sem namorado, distante dos amigos e desinteressada pelo trabalho. Estou aqui parada olhando para o computador tentando não surtar. Buscando ter uma reação diferente da que eu geralmente tenho (tinha!) quando me sinto sozinha e carente.
Numa época não tão distante, eu tinha o hábito de colocar para fora a minha frustração gritando, agredindo, me descontrolando. Em seguida fechava meu ciclo dos horrores fazendo uma boa noitada, dançando, rindo, enchendo a cara de vodka e beijando o primeiro que pronunciasse meu nome corretamente. Pelo menos, nesse ínfimo instante conseguia não pensar em quanto a minha vida precisava de mim. E eu dela. Nessa minha “Matrix” sou amoral, ilimitada e todas as minhas ações vem desacompanhadas de conseqüências. Claro que isso perdura somente até o dia seguinte.
No “day after”, geralmente, levantava da cama e subitamente elevava as mãos à cabeça lembrando do que eu havia feito na noite anterior. Novamente, havia me exposto. Acabava por chorar igual a uma criança, porque percebia que continuava sem família, sem namorado, distante dos amigos e desinteressada pelo trabalho. Trancada no meu mundo, que se limita ao meu quarto, absorvia tudo o que a televisão tinha para me transmitir. Não questionava, não esboçava qualquer reação... Sempre à espera de algum telefonema que pudesse ter o poder de me tirar daquela solidão sem proporção mensurável. Às vezes o telefonema vinha e eu voltava ao meu ciclo dos horrores, repleto de derrotas, conflitos e copos descartáveis. Se é que vocês podem entender esta metáfora, em específico.
Hoje não. Há semanas percebi que eu sou duas mulheres em um único corpo. Quando estou me sentindo plena, feliz e motivada, sou eu mesma: simpática, animada, centrada, responsável, leal, fiel e altruísta. Mas quando me vejo na situação atual, na qual impera a solidão, a carência e para completar me sinto um burro de carga ao levar no lombo a culpa do mundo, me transformo nessa pessoa que descrevi acima: totalmente amoral, inconseqüente, insegura, agressiva, lasciva e ilimitada.
O mais irônico é que a pessoa que me ajudou a perceber isso tudo é a mesma que está me deixando desestabilizada e sem norte, isso porque ele foi o primeiro para o qual expus esse meu lado negro e que me viu do avesso por diversas vezes. Foi a mesma pessoa que me ouviu enquanto eu gritava em silêncio e que me estendeu a mão e ofereceu ajuda. Ajuda esta que eu, primeiramente, desdenhei, mas que logo em seguida, agarrei-a a ponto de não querer soltar nunca mais. Claro que não o culpo por nada disso. Tenho certeza de que tudo que está acontecendo na minha mente está diretamente relacionado aos meus transtornos.
Mas segundo minha pessoa especial, eu preciso transpor esse ciclo sozinha e enfrentar meus fantasmas sozinha. Sei que ele está certo, inclusive sei que é isso mesmo que eu tenho que sentir na pele para fortalecer o meu superego e para não voltar a me autodestruir. Ainda assim acho que poderia haver algum tipo de morfina psicológica que amenizasse essa angústia que vem da carência, da solidão e da insegurança. Ou então que eu não precisasse, efetivamente, passar por isso sozinha. Sei que de hoje em diante não vou mais me descontrolar, gritar, agredir e, muito menos, sair para a noitada. Vou me trancar no quarto e me limitar a chorar quietinha, enquanto suporto minha extrema mudança de comportamento.